Bom product manager vs Mau product manager

O que faz um PM ser um bom PM?

Allan Baptista
6 min readApr 6, 2021

Ser um Product Manager (“PM”) é um trabalho muito diferente do convencional. Você não precisa só ser bom, mas precisa ser bom no contexto em que você está atuando. Um ótimo PM de um produto SaaS para pequenas empresas, pode fracassar completamente ao gerir um produto voltado para o consumidor final.

Além disso, o que geralmente distingue os PMs bem sucedidos dos mal sucedidos não são os frameworks, processos ou rituais que o PM usa, mas as características culturais que ele desenvolve durante sua experiência resolvendo, junto com seu time, os difíceis problemas que afligem os seus usuários.

Ben Horowitz, no seu livro O lado difícil das situações difíceis, e Marty Cagan, no seu livro Inspirado, fazem um ótimo trabalho em listar, nas suas visões, as características que diferenciam os maus PMs dos bons PMs. O que invariavelmente resulta na criação de produtos que ninguém se importa versus produtos que todos amam. O fracasso versus o sucesso.

As características a seguir mesclam as ideias dos dois pensadores acima citados com a minha experiência e tentam ajustar as expectativas do que eu considero ser a definição moderna de um bom Product Manager.

  • O bom PM aceita que tem de exercer o papel de CEO do produto. Sabe que uma das suas mais importantes responsabilidades é elaborar uma visão clara e convincente do produto e comunicar essa visão de forma que seja inspiradora e entendida como palpável pela sua organização. Joga o jogo do longo prazo e trata com muita criticidade todas as escolhas que os mantém rumo à visão. O mau PM reclama que não lhe dizem o que fazer, que não dão uma direção, que recebe muitos “pastéis” dos quais não consegue se livrar e acha que a responsabilidade de elaborar uma direção para o produto é somente da alta liderança.
  • O bom PM origina suas inspirações e ideias dos objetivos e visão do produto, observando os problemas dos usuários e clientes, analisando dados de comportamentos do usuário utilizando o produto, e constantemente procura maneiras de aplicar novas tecnologias para resolver problemas reais. O mau PM acumula demandas e requisitos dos stakeholders. Trabalha como um “garoto de recados” entre as áreas de negócios e o time de produto.
  • O bom PM se comunica diretamente e frequentemente com usuários e clientes (internos e externos), para continuamente entendê-los e observar as suas respostas às últimas ideias de produto. O mau PM acha — ou pior, tem certeza — que é o próprio cliente.
  • O bom PM entende que a comunicação é um dos maiores pilares da gestão de produtos. Aceita que a linguagem escrita e falada são ótimas ferramentas para distribuir conhecimento e instigar inovação, e persegue as melhores maneiras de se comunicar, independente do contexto no qual seus ouvintes/ leitores estão inseridos. O mau PM não dá a importância necessária para a distribuição de conhecimento nas organizações que têm influência. Nunca explica o “óbvio”. Acha que todo mundo tem que entender todos os jargões técnicos que tange seu produto e sempre reclama que os stakeholders estão desconectados da realidade do desenvolvimento do produto.
  • O bom PM cria materiais de apoio, FAQs, faz apresentações e relatórios que podem ser usados pelos seus colegas das outras áreas de negócio (como atendimento e marketing), assim como pelos executivos, e sabe que, quando bem elaborados, esses documentos podem comunicar e educar por anos.. O mau PM se queixa de estar sobrecarregado por passar o dia todo respondendo dúvidas das outras áreas de negócio.
  • O bom PM entende que é uma liderança por influência, que é um modelo comportamental e por isso é disciplinado com suas atividades do dia a dia, é pontual e objetivo nas reuniões, sempre envia os relatórios necessários no tempo esperado. O mau PM é autocentrado. Não respeita a importância da disciplina e não tenta influenciar bons comportamentos ao agir como modelo dos mesmos.
  • O bom PM sabe que não é chefe de ninguém, mas também sabe que tem a responsabilidade fundamental de inspirar, motivar e informar seu time, o que é basicamente a definição de liderança. O mau PM acha que todos acordam todos os dias motivados, inclusive ele. Reclama da falta de interesse dos engenheiros, da falta de agilidade e/ ou qualidade das entregas, e acha que nada disso é de sua responsabilidade.
  • O bom PM sabe identificar e fomentar um time de missionários. O mau PM se vê em um time de mercenários e acha que não pode fazer nada para mudar isso.
  • O bom PM entende que tem total responsabilidade sobre o sucesso do produto, que o quê importa são as métricas de sucesso do produto sejam atingidas direta ou indiretamente via melhorias incrementais e iterativas, e sabe que entregar valor para o usuário é a melhor maneira de atingir os objetivos da empresa. O mau PM se preocupa com a quantidade de features entregues. Não acompanha a evolução das métricas de sucesso todos os dias. Não reorienta os esforços do time quando percebe que as métricas de sucesso não estão sendo influenciadas pelas últimas entregas, e não comunica extensivamente os resultados influenciados pelas entregas de seu time.
  • O bom PM celebra quando seu time consegue causar um impacto significativo no resultado do negócio. O mau PM celebra quando seu time finalmente consegue entregar uma nova feature.
  • O bom PM instrumenta toda e qualquer entrega para que possa entender imediatamente como seu produto está sendo usado e propõe ajustes baseados nos dados. O mau PM considera analytics e relatórios um “nice to have”.
  • O bom PM não se apaixona pelas soluções, mas pelos problemas. Entende que seu objetivo final é resolver o problema em questão, com o menor custo, maior eficiência e qualidade possível. Não desiste até o problema ser completamente resolvido e sem débitos. O mau PM aceita soluções sugeridas por stakeholders sem nenhuma validação, prioriza essas soluções para serem desenvolvidas e desperdiça o tempo do time com soluções que não resolvem o problema real.
  • O bom PM entrega valor continuamente a seus usuários e clientes. Sabe que uma corrente constante de entregas menores provê uma solução muito mais estável para seus usuários, além de manter um ciclo de aprendizado constante. O mau PM testa manualmente junto com seu time após uma integração longa, grande e dolorosa, e depois entrega tudo de uma vez para seus usuários.
  • O bom PM entende que um dos maiores recursos que temos são as cabeças dos nossos engenheiros. Sabe que se estivermos usando nossos engenheiros somente para codificar, estamos desperdiçando 50% dos seus talentos. Tem empatia para identificar quando eles estão sobrecarregados e desmotivados, e sabe a hora de desacelerar. O mau PM não torna uma de suas prioridades, envolver os engenheiros o mais cedo possível durante o descobrimento de uma solução.
  • O bom PM sabe que usabilidade pode definir o sucesso ou o fracasso de um produto. Nutre seu relacionamento com seu product designer. O envolve em pesquisas e testes extensivos com o usuário final. O mantém sempre contextualizado sobre tudo que tange o produto desde a descoberta até a entrega. O mau PM não envolve seu product designer no processo de descoberta, não faz pesquisas ou testes com o usuário final, só envolve o product designer quando acha que já sabe o que precisa ser feito.
  • O bom PM é especialista no seu produto. Tem o respeito e confiança das áreas de negócio pelo domínio que exerce no conhecimento sobre seu produto. Consegue avaliar todos os grandes riscos que permeiam seu produto (valor, usabilidade, viabilidade técnica, viabilidade do negócio). O mau PM reclama de estar sempre apagando incêndio. Não se prepara para o pior. Não é visto como a fonte mais confiável de informação sobre o seu produto.
  • O bom PM conhece o mercado em que seu produto está inserido. Tem visão clara do seu product/ market fit, personas e clientes, e consegue comunicar com clareza tudo que for relevante sobre o produto e o mercado para seus stakeholders e executivos da empresa. Toma partido por escrito sobre toda e qualquer decisão ou acontecimento crítico que tange seu produto. O mau PM não observa seus concorrentes, as trends tecnológicas, não busca relatórios de mercado de fontes confiáveis. Não compartilha seus conhecimentos do mercado com seus colegas e stakeholders, e reclamam quando ocorre uma mudança de direção ordenada pelos executivos que o força a mudar seu planejamento.
  • O bom PM fica obcecado pelos seus usuários e clientes. O mau PM fica obcecado pelos seus competidores.
  • O bom PM é humilde. Tem mais perguntas do que respostas. É visto por todos como um bom ouvinte. O mau PM sempre têm mais respostas do que perguntas. Só ouve a si mesmo, e acha que já tem todo conhecimento que precisa.

Ser um bom PM é um trabalho difícil, não é atoa que existem muitos produtos medíocres por aí. É um trabalho que não foi pensado para a rotina comum de 9h às 18h e 40h/semana. Por isso é necessário foco e gestão de tempo impecáveis para conseguir cultivar todas essas características de um bom PM, e criar produtos que ajudarão a escrever a história das próximas décadas.

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